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Revista EngWhere: EngWhere: Concreto Usinado, Concretagem, Alvenaria de Elevação, Concorrência Pública. Métodos Construtivos. Planejamento
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ORÇAMENTOS, PLANEJAMENTOS E CANTEIROS DE OBRAS
Ano 02 •  nº 07 • 04/05/2002
NESTA EDIÇÃO
Metodologia / Métodos Construtivos - A diferença que faz na sua obra
Na Seção Almanaque: Engenheiros Notáveis
Nossos Parceiros: Ética nas Organizações
Nada é mais simples do que a nobreza; na verdade, ser simples é ser nobre.
- Ralph Waldo Emerson, meio superado.
  Metodologia: Obras / Concorrências Públicas

Civil, Bombeamento de concreto, Cimbramento, Escoramento, Forma Deslizante


-MAIS PARA A DIREITA!!! Grita em seu alto-falante um dos 9 sinalizadores principais estrategicamente distribuídos, que efetivamente comandavam - acima dos bandeirolas e elém dos inúmeros lanterninhas de prontidão para o caso dos serviços se estenderem até à noite - a Operação de Orientação e Sinalização aos Helicópteros ou OOSH (sigla idealizada pelo aspone do Presidente, Candinho Marmelada segundo a peãozada), dirigindo-se aos pilotos. Uma multidão enorme assistia atenta e toda a imprensa especializada presente.
Foram semanas de discussões, estudos e consultorias aos mais diversos especialistas até que, enfim, a imponente torre metálica de 90 toneladas, pré-montada e inteirinha, estava sendo lançada sobre o Pico do Jaraguá por meio de 3 helicópteros do Exército (conseguidos a duras penas por insistência de um político interessado no êxito da obra).
Naquele domingo ensolarado muitos curiosos não foram ao Ibirapuera para assistir o espetáculo ao vivo.
Candinho estava radiante. Não só fora o autor da sigla como também da idéia dos alto-falantes para fornecer o maior número de detalhes aos repórteres. Um olho na torre subindo aos céus e o outro cuidando de acalmar seu Presidente que, irrequieto, suava frio e a toda hora alisava com as mãos os cabelos esbranquiçados, tentando inutilmente melhorar sua aparência e dissimular a aflição.



orcamento MÉTODOS CONSTRUTIVOS
A DIFERENÇA QUE FAZ NA SUA OBRA OU CONCORRÊNCIA PÚBLICA

As honras
cabem aos generais

- Agostinho Neto (Poemas de Angola)

Excelente matéria para ficção, marketing ou para se vangloriar, os Métodos Construtivos (ou Metodologia) a que estaremos nos referindo são os destinados a reduzir custos e prazos, ou solucionar problemas de obras. O Carnaval acima é ilustrativo e voltaremos a falar sobre ele mais adiante.
Existem sempre diversas maneiras e processos para se executar uma obra e seus serviços. Uma só, evidentemente, é a vantajosa e dependente de fatores específicos à cada situação. As vantagens estão relacionadas aos custos, aos prazos, à disponibilidade dos recursos, à segurança e à qualidade dos serviços. Eventualmente à facilidade de execução dos trabalhos.
Os estudos para emprego dos melhores métodos ou processos estão ligados quase sempre à definição dos mais convenientes insumos, quais sejam: o equipamento apropriado, a quantidade e rotinas para utilização da mão de obra, a escolha dos materiais mais adequados e as soluções de logística específicas a estes insumos.
Serão levantadas a seguir algumas opções para se executar importantes serviços dentro de uma obra genérica, e nossas pretensões serão alertar sobre a importância de se analisar, ou pelo menos pensar, como será feito um serviço, o menor deles, antes de iniciá-lo. Como a matéria é empregada tanto em obras como em propostas, as chamadas Propostas Técnicas, que para serem consistentes deverão se aproximar o máximo da realidade, não faremos distinção entre elas.
Os Métodos Construtivos convencionais, ou seja, os processos usuais ou tradicionais, cuja eficiência está mais que comprovada, deverão sempre estar presentes em todos os estudos comparativos de preços e de vantagens. Antes de definir a melhor maneira de se executar um serviço o Engenheiro deverá estar ciente que "ser simples é ser douto" e, a não ser quando obrigatória, toda variação ou mudança, e também os modernismos lançados no Mercado, deverão ser precedidos de estudos comparativos de custos e prazos para que se justifiquem mesmo.
Os estudos sobre as técnicas da boa execução, além de extremamente compensadores, propiciam ao Engenheiro, como nada em uma obra, a sensação de realização, ou de missão cumprida, e o constante interesse sobre eles acabará se tornando uma fonte de aprendizagem incomparável e um fator para se adquirir experiência cada vez mais sólida.
Pela extensão do assunto estaremos abordando a seguir tão somente os processos mais genéricos e comuns em obras, deixando para uma nova oportunidade as soluções específicas e também as mais recentes no Mercado.

Primeiro passo: o Planejamento Executivo

Faça a descrição e os estudos de sua Proposta Técnica detalhada e seriamente, como se estivesse fazendo o planejamento definitivo da obra. Com o tempo você irá ganhando experiência e seus trabalhos rapidez e precisão. Além disto, e além de enriquecer em conteúdo a Proposta, irá também ganhar tempo mais tarde caso, vencida a concorrência, tenha que elaborar o Planejamento Executivo.


Planejar é principalmente visualizar as dificuldades futuras. É uma maneira de se levantar os serviços que necessitariam de tratamento especial antes que estes se manifestem em forma de problemas. Para melhor detectá-los será necessário ter em mãos alguns dados que somente o Planejamento fornece, quais sejam:
• O cronograma mensal da mão de obra empregada;
• A relação dos equipamentos utilizados;
• O rol das dificuldades principais da obra, inclusive as de logística e de prazos, ainda que não totalmente solucionadas. Tão importante quanto ter a solução do problema, é detectá-lo oportunamente;
• A curva A-B-C das despesas previstas;
• O lucro da obra;
• Sempre que possível: o Pert manualmente elaborado.
De posse deste conjunto de dados, a obra já estará quase que inteiramente entendida e dominada.

Escavações para infraestrutura

Se o material proveniente das escavações não for de qualidade adequada para o posterior reaterro, este será removido integralmente, importando-se a terra para reaterro posterior. Caso contrário será armazenada a quantidade necessária ao reaterro, removendo-se o excedente para se evitar o acúmulo de terra nas áreas de trabalho.

O volume das escavações, a disponibilidade de ajudantes na obra e o preço de mobilização da retroescavadeira serão os parâmetros que definirão se as escavações serão manuais ou mecanizadas.
Os equipamentos, quando não permanecem muito tempo ociosos e têm frentes suficientes para diluirem seus custos de mobilização, geralmente levam vantagens sobre o trabalho braçal.
Nos estudos de custo não deverão ser levadas em conta as facilidades que a máquina pode oferecer executando tarefas que não lhe competem, como o transporte de materiais e a descarga de cimento com ajuda da retroescavadeiras, pois tais procedimentos prestar-se-iam antes para onerar a obra.

O lençol freático encontra-se acima da cota de escavação
Havendo necessidade de rebaixamento do lençol freático as escavações poderão ser executadas em 2 etapas. A primeira etapa das escavações, ou seja, até cerca de 60cm acima do nível do lençol freático, poderá ser executado por processo mecânico convencional. A segunda etapa será executada com retroescavadeira sobre esteira, devido terreno possivelmente encharcado. A técnica irá depender também da permeabilidade do solo.

Lançamento do Concreto Usinado
Entre todos os estudos a análise dos equipamentos adequados ao lançamento do concreto é disparada a mais constante entre os planejadores. O tempo do lançamento do concreto, entretanto, é relativamente pequeno em relação às demais atividades como a de forma, armação, elevação de alvenaria, etc., com as quais é executado simultaneamente e a duração das concretagens raramente irão influenciar significativamente os prazos finais da obra.
O lançamento direto é o processo preferível e só em último caso deverá ser substituído. Através de uma bica de pequenas dimensões e peso, ou com a própria bica da betoneira, será requerido apenas que se tenha acesso livre ao local de lançamento, e a obra deverá sempre ser pensada de forma a nunca atravancar a passagem dos caminhões-betoneiras.
O guindaste ou a grua são boas opções desde que não fiquem ociosos por longos períodos. Em obras industriais, com concretagens espalhadas e constantes o guindaste poderá ser a solução mais vantajosa. Nas obras horizontais, a grua fixa ou sobre trilhos, poderá ser o equipamento ideal desde que não lhe sejam requeridos freqüentes reposicionamentos.
A Bomba de Concreto é opção eficiente em quase todas as situações de difícil acesso, porém onerosa, e ainda exige a adaptação do traço do concreto ao bombeamento, com todos os inconvenientes que o concreto rico em cimento apresenta. É contra-indicada para pequenos lançamentos devido taxa mínima que é cobrada pela locação e pelo trabalho de mobilização e limpeza de tubulações. Neste último caso o processo perderá em eficiência para lançamento através de giricas manuais, que requerirá também menor número de operários.

Armação de ferragem

Sempre que possível as armaduras deverão ser pré-moldadas, construindo-se vigas e "gaiolas" a serem colocadas dentro das formas. Com isto poderá ser aproveitado o eventual tempo de ociosidade dos armadores e liberadas frentes às demais funções da carpintaria e da concretagem mais rapidamente.


Dependendo da quantidade do aço a ser beneficiado pode-se optar:
  • Pela utilização de máquinas elétricas de corte e de dobra. O dimensionamento destas máquinas deverá ser pensado como dispostas em linhas de produção, com base na produção nominal das máquinas e sendo empregadas aos pares, ou 1 máquina de corte para 2 de dobra. O valor da locação das máquinas inviabiliza seu uso quando permanecem por longos períodos ociosas.
  • Pelo corte através de máquina manual (ou tesourão) e a dobra também manualmente em bancadas.
Um processo que não convenceu. A idéia é excelente, o custo entretanto ficou pela hora da morte: a aquisição do aço já beneficiado, o aço-pronto, é inviável já que seus preços, por teimarem em não acompanhar as regras da concorrência da obra, extrapolam, e o método acaba se convertendo em repasse de parte dos serviços, incluindo o lucro, à outra empresa.

Escoramento, cimbramento e fôrma
Para a grande maioria das obras de concreto será possível afirmar que aumentando-se o número de carpinteiros em um certo percentual, os prazos da obra serão reduzidos em igual proporção.
O bom dimensionamento dos carpinteiros e seus equipamentos deverá ser a preocupação maior do Planejador, que simplesmente deverá manter um número coerente de operários nos setores de armação e concretagem para acompanhar a produção que é imposta pela Carpintaria, a atividade crítica.
Aqui os comparativos de custo deverão levar em conta também o ganho com a redução dos prazos da obra. A fôrma mais barata, além de permitir o maior número de reutilizações, deverá ser a que maior agilidade impõe aos serviços.
Inúmeros métodos e processos encontram-se disponíveis: fôrmas-prontas, trepantes, deslizantes, metálicas; escoras com eucalipto, escoras metálicas, o método Ueno (o duplo pontalete que serve tanto para o cimbramento da laje quanto para o escoramento das fôrmas laterais das vigas); e processos para desforma rápida como a cura a vapor, os aditivos e cimentos que propiciam alta resistência inicial do concreto, etc.
Estamos propensos a acreditar, entretanto, que a experiência do Mestre de Obra, que concreta 1 andar de seu prédio a cada sábado sem utilizar nenhuma destas avançadas tecnologias, é parâmetro para ser seguido.

Generalizando: o processo mais importante que surgiu nestes últimos anos, além, é claro, do compensado resinado para substituir a tábua de pinho, é o da fôrma deslizante, e o que menos convenceu foi a fantasmagórica Cura a Vapor.

Critérios de utilização da mão-de-obra
Definir se o pessoal trabalhará sobre o regime de horas extras, se haverá trabalhos noturnos, tarefas, contratação de mão-de-obra temporária, se serão disponibilizados alojamentos e/ou ônibus para transporte do pessoal, é incumbência do Planejador e dependerá da disponibilidade dos profissionais necessários nas imediações da obra.

As horas extras, diferentemente do que se pensa, nem sempre oneram a obra pois dispensam alimentação e transporte, e reduzem todas as outras despesas indiretas por reduzirem os prazos da obra.
A contratação de mão-de-obra temporária nos meses de pico dos serviços, bem como o trabalho noturno para evitar contratação de grande quantidade de equipamentos, são decisões sábias.


O Planejador deverá definir opções para o recrutamento e o transporte do pessoal até as frentes de serviço.
Inicialmente procurar alocar o pessoal pertencente ao quadro funcional e transferido de outras obras da Empresa. Então, considerar a utilização de ônibus, através do fornecimento de vale-transporte, ou caminhões, munidos de toldos e bancos de madeira, e kombis, eventualmente disponíveis na obra.

Fábricas na obra

Há algum tempo a escolha entre blocos de concreto ou tijolos cerâmicos dependia da variação ou tendência dos preços do cimento (que influía nos blocos) em relação ao da mão de obra (parcela mais significativa na fabricação dos tijolo cerâmico).

Dependendo sempre da demanda é preferível manter na obra, juntamente com o lucro que estes serviços proporcionam, uma fábrica de blocos e uma usina de concreto.
O concreto deverá ser sempre que possível usinado, devido maior e melhor controle, e qualidade.

Alvenaria de elevação
Será usado o mesmo fornecedor de tijolos ou blocos para se evitar diferenças de bitola. Os mesmos serão armazenados o mais próximo possível das frentes de aplicação, em pilhas uniformes e com o cuidado necessário para se evitar a quebra dos cantos, ou ranhuras em se tratando de tijolo aparente.
Serão transportados por giricas e quando for o caso, elevados por guinchos com torres ou içados por guinchos "Velox".
As tubulações elétricas e hidráulicas serão embutidas preferencialmente em simultaneidade com a elevação das mesmas, de modo a minimizar furos, cortes ou rasgos após a execução.

Vias de circulação do canteiro
As Vias de Circulação do canteiro sendo coincidentes com as vias definitivas da obra, poderão minimizar os remanejamentos na pavimentação destas e durante os demais serviços da obra.
Se encascalhadas e drenadas de forma definitiva, de modo a se manterem transitáveis mesmo em época de chuvas, poderão evitar ônus futuros com serviços exagerados de manutenção.

Previna-se contra os métodos fantásticos e as novidades
Na verdade aumentaram e se desenvolveram muito os recursos disponíveis na Construção Civil, muitos equipamentos se modernizaram ou foram criados, muitos materiais novos foram lançados, porém pouquíssimas técnicas novas conseguiram suplantar e substituir definitivamente as que eram anteriormente empregadas, embora o grande número de novidades que surgiram. As grandes vedetes da inovação foram mesmo os materiais de acabamento.
O Engenheiro deve evitar se influenciar pelos métodos mirabolantes, como aquele criado pelo Candinho na abertura desta exposição, antes de um minucioso estudo de preços, prazos e viabilidade de execução, e às novidades que são descarregadas constantemente no Mercado. Afinal, se tão boas como nos são apresentadas, todos já não estaríamos utilizando-as?

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  ALMANAQUE

VOCÊ SABIA...
Pico do Corcovado
, um verdadeiro show de vias para escalada, com 704 metros de altitude, foi escalado pela primeira vez por um grupo de engenheiros, no início do século XIX, comandados pelo próprio imperador D. Pedro I. A pequena estrada de ferro com sistema de cremalheira (Riggenback) começou a ser construída em fevereiro de 1882 e terminou, até o pico, em julho de 1885. O Cristo Redentor, outro forte cartão postal do Rio e do Brasil, começou a ser construído em 1929 para ser inaugurado em outubro de 1931, abrindo os braços sobre a cidade maravilhosa até hoje.


Torre Eiffel, estrutura erguida em Paris, para comemorar os cem anos da Revolução Francesa e a Exposição Universal de 1889. Foi projetada pelo engenheiro civil francês Alexandre Gustave Eiffel. É considerada um marco na construção de monumentos em ferro forjado. A torre, com 300 m de altura, tem forma piramidal em vigas e treliças sustentadas por quatro grandes arcos semicirculares. Suas faces externas são curvas para oferecer menos resistência ao vento. No topo, seu idealizador instalou um farol e um laboratório de aerodinâmica. Na época de sua construção provocou grande polêmica. Muitos engenheiros acharam que ela desmoronaria, intelectuais acusaram-na de macular a paisagem de Paris. Com o tempo, transformou-se no símbolo da cidade e serviu de inspiração para muitos artistas, inclusive de vanguarda, entre eles, Robert Delaunay.


Palavras-chave

metodologia, metodos, construtivos, concreto usinado, concorrências públicas, concreto usinado, premoldados, concretagem sapatas, concretagem baldrames, concretagem lajes
  ENGENHEIROS NOTÁVEIS   BOAS-VINDAS


Watt, James (1736-1819), inventor e engenheiro mecânico escocês, de grande renome por suas melhorias da máquina a vapor. A unidade elétrica "watt" recebeu este nome em sua homenagem. Foi também um famoso engenheiro-civil, que fez vários estudos sobre canais.

Brinde
Franco, Itamar
(1931- ), nasceu a bordo de um navio no litoral da Bahia. Foi criado em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde formou-se em Engenharia civil e eletrotécnica e iniciou a sua carreira política, sendo, portanto, baiano da gema.

PRÓXIMO NÚMERO
07/06/02
* Concreto Usinado, Concreto Premoldados, Concorrências Públicas, Concretagem Sapatas, Concretagem Baldrames, Concretagem Lajes no O A-B-C do Recém-Formado

REVISTA GERENCIAMENTO & OBRA

Está com lançamento previsto para junho a Revista G&O, uma publicação mensal da Editora Piemont, de caráter informativo para o profissional da área de gerência de projetos, gerentes de contratos, planejadores, gerentes de custos e obras.
O Pessoal promete conteúdo, como já prenuncia o próprio título.
Num Mercado carente, onde revistas e jornais especializados só noticiam lançamento de prédios ou republicam catálogos de fabricantes (nossa Revista seria exceção isolada), uma publicação de alto nível é mais do que bem-vinda.
Una-se aos bons e serás um deles. Antes que disputa, evidentemente, estaremos angariando é parceria com eles. E ensejando-lhes muito sucesso.

HAICAI...
Dia do Trabalho.
Não perca as festividades...
E os protestos.
  NOSSOS PARCEIROS
  Ética e Educação

ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES

Engº Paulo Sertek
Engenheiro Mecânico, Licenciado em Mecânica e Especialista em Gestão de Tecnologia e Desenvolvimento
Professor de Cursos de Pós-Graduação em Ética nas Organizações e Liderança
Pesquisador em Gestão de Mudanças e Comportamento Ético nas Organizações
Assessor empresarial para desenvolvimento organizacional
Portal educativo

1. Introdução
Chamou-me a atenção um artigo de jornal, escrito por Peter Nadas, que introduzia o tema da ética da seguinte forma: "Todas as vezes que, em conversas com amigos, menciono a expressão ética empresarial, os sorrisos irônicos aparecem imediatamente nos lábios: Será que existe isso?, perguntam-me eles. Existe aí uma contradição, acrescentam geralmente. O mundo da empresa é voltado para os lucros, o que vale é o resultado final, tudo se justifica em função deste fim. Logo, onde o fim justifica os meios, não se pode falar em ética...Os oligopólios, os acordos de preços secretos, as concorrências públicas "fajutas", a corrupção ativa e passiva, os conflitos de interesse, a propaganda enganosa, a inobservância das leis, a poluição, a sonegação... onde está a ética? Pobre amigo, tira o cavalinho da chuva: ética e empresa simplesmente não podem conviver!" .
Esta impossibilidade de convivência, costuma ser a solução mais fácil. É muito cômoda a solução anti-ética pois visa atingir resultados a curto prazo. Procedimentos anti-éticos, sem considerar o seu mal intrínseco, produzem um acomodamento das pessoas e instituições no estágio já atingido. Estimulam a incompetência profissional e favorecem a falta de talento. Aonde exigiria mais trabalho, criatividade ou melhoria de qualidade apela-se para a falsidade ou a corrupção. Tal postura, individual ou coletiva, provoca uma diminuição da capacidade de superação das dificuldades e afeta a vitalidade competitiva da empresa. O próprio esforço por buscar soluções fundamentadas nos princípios morais aperfeiçoam as pessoas e redundam na melhoria do sistema onde estão inseridas.
Comportamentos anti-éticos ganham espaço enquanto são a exceção ao comportamento geral. Sobrevivem pela sua condição de parasitismo. Beneficiam-se da instrumentalização de uma maioria ética. Veja o caso da publicidade de produtos. A propaganda enganosa atinge os seus objetivos enquanto a maioria dos que anunciam seus produtos atem-se à qualidade de informação. Caso proliferasse a falta de veracidade, os consumidores não mais confiariam nas campanhas publicitárias. Deixariam de ser rentáveis para os espertos.
Apoiando em dados da experiência constatada em diversos setores de países desenvolvidos, afirma Péres Lopes serem "muitos os homens de empresa que- por intuição própria- já verificaram que as realidades éticas ( eles chamam de confiança, espírito de serviço, sentido de responsabilidade, e de mil outros modos) pertencem ao núcleo mais profundo e determinante do funcionamento das organizações que dirigem. São conscientes de que, no longo prazo, os próprios resultados econômicos dependem mais diretamente da qualidade ética de seus homens do que das condições não controláveis do ambiente. Tem crescido mais e mais a evidência de que tentar dirigir uma empresa sem atender aos fatores éticos da realidade é algo tão suicida como projetar e usar uma peça sem levar em consideração a resistência e demais propriedades dos materiais com que está construída" .
Ações valiosas, as de caráter ético dão solidez às pessoas e empresas. Quando se pretende melhoria de qualidade em serviços e produtos o caminho está no cultivo de atitudes éticas.

2. O que é Ética?>
A palavra ética tem sua origem na palavra grega "éthos" que significa costume ou comportamento consciente do homem. Não é um mero elemento de fora que se incorpora ao comportamento humano, mas sim uma conduta escolhida de acordo com uma razão equilibrada. Quando o homem determina-se a si mesmo, guiado por seu espírito interior, a agir bem, está atualizando seu éthos. A ética é a ciência do éthos, da conduta humana ordenada. Ela ajuda o homem a refletir sobre o seu próprio atuar e determinar quais são os modos de agir que aperfeiçoam a personalidade humana e a convivência social. Dirige-se ao ser do homem e o leva a sua máxima perfeição. Ao contrário as condutas de não-valor, trazem como conseqüência a caotização da vida pessoal e do entorno social.
Já vemos que a ética visa a realização da pessoa. Não uma realização segundo um ou outro aspecto particular, como seria a realização profissional, financeira, afetiva, etc., mas a realização do homem enquanto homem. Podemos nos sentir realizados depois de verificar o saldo no banco, no entanto este aspecto não significa que estejamos plenamente realizados.

3. Realização da pessoa e da organização
A nossa sociedade enveredou pela linha da busca do progresso como solução para todos os problemas humanos. Neste sentido o escritor russo Alexander Soljenitsyn aponta os resultados: "Estamos progredindo! A humanidade instruída prontamente depositou sua fé nesse progresso. E, no entanto, ninguém indagou a fundo: Progresso sim, mas em quê? Presumiu-se com entusiasmo que o progresso abrangeria todos os aspectos da existência da humanidade em sua inteireza. ..... O tempo passou e ficou demonstrado que o progresso avança de fato, e surpreende superando expectativas, mas só o faz no campo da civilização tecnológica (com especial sucesso para o conforto do ser humano e nas inovações militares) (...)Tudo o que esquecemos foi a alma humana. Permitimos que as nossas necessidades aumentassem à solta, e agora não sabemos para onde dirigi-las. E, com a assistência obrigatória dos empreendimentos comerciais, necessidades cada vez mais novas são inventadas, e algumas são totalmente artificiais; e buscamo-las em massa, mas não encontraremos realização. E nunca encontraremos" .
A ética dirige-se para a realização mais profunda do homem. Fundamenta a conduta em princípios que tem em conta o bem do homem como um todo. O progresso material é um aspecto mas não atende o anseio de realização que brota em cada um. Aristóteles afirmava com claridade meridiana: "Nenhum bem finito as riquezas, o prazer, as honras, a saúde e fortaleza corporal- pode ser objeto da felicidade humana, porque são incapazes de saciar as tendências principais e mais próprias do homem" .
Todo homem está submetido a uma tensão entre; o que é e o que deve ser. É exatamente nesse processo de autorealização que se insere a ética. Há princípios que regem a realização da pessoa como um todo; o da veracidade, imparcialidade, lealdade, solidariedade, etc. Procurando que as ações estejam em conformidade com estes princípios, levam a uma estruturação harmônica da personalidade.
Em uma determinada sociedade, instituição, etc., a sua grandeza será medida pela somatória dos valores das atitudes dos seus integrantes. A empresa como um todo se beneficia da melhoria da qualidade dos seus componentes. Produtos e serviços serão de qualidade em decorrência da busca da excelência nas ações mais simples e pequenas que incidem na sua execução.

4. Liberdade e responsabilidade
O homem é um ser dotado de inteligência e vontade livre. É capaz de escolher livremente as ações que contribuem para a sua realização. Desta forma torna-se responsável pela sua própria edificação. A ética fundamenta-se em dois princípios básicos : "Faz o bem e evita o mal", "Não queiras para os outros o que não queres para ti". Sob a luz destes dois princípios decorrem todos os valores morais. Um dos trabalhos primordiais é o de pautar as próprias decisões de acordo com eles. As escolhas livres, "aqui e agora", estando ou não em conformidade com os princípios podem contribuir para melhorar ou corromper a personalidade. A razão serve de guia para as diferentes escolhas. Quando os princípios morais estão bem arraigados constroem-se convicções. As ações fruto destas convicções vão forjando hábitos éticos na vontade.
Não são suficientes os princípios e convicções para atuar, é preciso querer pô-los em prática. Corresponde à vontade, a determinação das escolhas concretas que fazemos. Cada um de nós experimenta, mesmo sujeitos a condicionalismos, tomar decisões livres. Somente com a participação da inteligência e da vontade num ato determinado é que podemos falar de moralidade.
É precisamente no campo ético que o homem atual está mais desguarnecido. Ele se volta para a realidade externa para conhecê-la melhor, transformá-la, no entanto avança pouco no conhecimento de si próprio e sobre a sua finalidade de vida. Com freqüência deixa o essencial para segundo plano. Como todas as ações provem do tipo de convicções que se tem, não se pode esperar que haja boa água num rio se a fonte estiver contaminada.

5. Fazer e agir
Há a propósito, uma importante distinção entre "fazer" e "agir": "fazer" aponta para a dimensão externa do ato humano (um tiro bem dado p. ex.). Mas sempre qualquer ato -ainda que a dimensão externa seja mais visível- tem também uma dimensão interna: não influi somente lá fora, mas também cá dentro: deixa um efeito na alma (pense-se p. ex. que o tal tiro bem dado pode ter sido um assassinato ou não), uma marca de acordo com o sentido humano que tiver: todo "fazer" traz consigo um "agir": dimensão interior do ato.
E é ai, no nosso interior- reino da liberdade e da responsabilidade- que se dá o âmbito moral: onde se constrói ou destrói a nossa realização, a nossa felicidade.
Um dos grandes problemas hoje em dia é a dificuldade de se enxergar que ética não é só qualidade ou excelência no "fazer", mas trata-se de atingir a qualidade no "agir". As ações concretas podem aperfeiçoar a pessoa ou corrompe-la dependendo da sua positividade ou negatividade ética
As ações de qualidade dirigidas ao "fazer" aperfeiçoam uma coisa exterior. Como a todo "fazer" corresponde um "agir", este último dirige-se a uma melhoria de qualidade da pessoa. A qualidade no "agir" leva o aperfeiçoamento da pessoa como um todo. A este agir corresponderá um aperfeiçoamento intelectual e moral daquele que o realiza.
Podemos aplicar o conceito de qualidade no "fazer" e qualidade no "agir" em qualquer âmbito da vida e também no âmbito das decisões empresariais. Uma ação pode atender perfeitamente aos lucros da empresa mas que no "agir", seja fraude. Promove-se uma boa estratégia de marketing que pode ser uma propaganda falsa, etc.

6. Ética das aparências
Outro desvio ético da nossa sociedade, é o da falta de unidade no agir. Adotam-se posturas e critérios que variam de acordo com os ambientes e circunstâncias. Peter Nadas nos lembra essa falta de unidade: "Em casa, vestimos o chapéu do pai ou da mãe de família. No trabalho, o do empregado, o do executivo ou do patrão. No clube, o boné de atleta. Na igreja, somos piedosos fieis. No ônibus, no metrô, o passageiro sisudo; na rua, o pedestre indiferente ou o motorista nervoso. O mal está em que, junto com o chapéu, trocamos as nossas hierarquias de valores, conforme o ambiente em que estamos. .. Quando muito, adotamos atitudes éticas, não por profunda convicção do que é certo e do que é errado, mas pelo medo de sermos "flagrados" em alguma ilegalidade ou transgressão" .
Uma conseqüência desta postura se plasma na cultura da "maquiagem" de bens e serviços. Procura-se uma qualidade aparente nas atitudes e nos produtos a fim de atingir resultados imediatos. Analisando a realidade brasileira, Semler afirma que "todo o desenvolvimento das técnicas mercadológicas nas últimas décadas se deu ao redor de técnicas de qualidade aparente, e não em torno de qualidade estrutural. Prova disso é que não existe mentalidade, nas áreas de marketing das empresas e nas agências de publicidade, de verificar a real qualidade intrínseca dos produtos".
Depois de mencionar que é prática comum nas empresas procurar "maquiar" produtos para conferir-lhes um aspecto mais atraente, reconhece que, "se perguntados na intimidade, a vasta maioria dos empresários e executivos nacionais confessará que o padrão de qualidade de seus produtos certamente poderia ser muito superior, e concordará que há características do produto que apenas servem para dar uma impressão de qualidade e, de fato, têm pouca utilidade prática" .

7. Ética da mediocridade e ética das virtudes
Com muita freqüência os cursos de ética acabam degenerando para a "ética da mediocridade", a ética segundo os moldes da média, do que todo mundo faz. Alguns se restringem no até onde posso ir para não ser preso. A verdadeira postura ética é a busca da excelência. É uma visão magnânima, não fica nos cálculos egoístas.

A prática ética leva em conta dois movimentos, aqui analisados separadamente, mas que na realidade andam juntos como as duas faces de uma moeda. Um primeiro movimento é de dentro do homem para fora e o outro de fora para dentro. Uma ação valiosa provem de uma pessoa de valor. Do menos não sai o mais, não se tira dez de meia dúzia. De uma árvore má não se colhem bons frutos. Daí a realidade de que se conhece o que somos pelo que fazemos. Diz um pensador que uma pintura fraca é de um pintor fraco. Por outro lado o segundo movimento é o da correção o da busca árdua da ação de qualidade. A ação de valor aperfeiçoa a pessoa . É o cultivo das virtudes.
Ações que visam a perfeição no "fazer", mas desvinculadas de qualidade no "agir" podem render no curto prazo, no imediato, mas a médio e longo prazo desestruturam e caotizam. Cada homem se aperfeiçoa com os bons hábitos. Estes adquirem-se à base de repetição constante de atos valiosos.
O enfoque que temos que dar é o da ética das virtudes. Uma ética que parte positivamente para o empreendimento valioso e não para a retranca da mediocridade. Vem sob medida um conselho para potenciar o crescimento das virtudes: "Uma ética para empresários, diretores, em resumo, não consiste em um conjunto de regras para saber quando uma decisão é contrária a ética ou quando não é. Consiste, essencialmente, em um conjunto de conhecimentos que ajudem os dirigentes a descobrirem as oportunidades que lhes brinda sua profissão para que cheguem a ser melhores pessoas, isto é, para que desenvolvam suas virtudes morais".

8. Qualidade no agir - virtudes
Qualidade no agir significa virtude. A palavra virtude, muito esquecida nos dias de hoje, é o bom hábito. Por outro lado o vício é o mau hábito. As virtudes se adquirem à base de repetição de atos. No início podem ser custosos, mas à medida que se praticam, criam uma facilidade no agir.
Virtude vem da raiz latina "vir" que significa força. Onde reside esta força? Na vontade. A vontade vai se enrijecendo e aumentando a sua capacidade de definir-se pelos valores. Os filósofos dizem que se ganha uma "segunda natureza", porque a "primeira natureza", a bruta pende pelo caminho da facilidade, da lei do mínimo esforço. Comprova esta idéia o que vemos na nossa sociedade de consumo apontada por Isaac Riera: "Os filhos desta sociedade do bem-estar temos a alma muito débil e frágil, porque não estamos acostumados a suportar carências nem tão pouco a vencer-nos. A vontade exercita-se e desenvolve-se quando há que se exigir muito a si mesmo diante das dificuldades e durezas da vida, mas fica atrofiada quando tudo são comodidades. E aqui está o ponto central da questão: não se pode esperar muita altura moral de quem se rege pela lei do mínimo esforço, mas essa lei nos foi inculcada, em princípios e na prática, pela sociedade do bem-estar em que estamos instalados" .
Também aponta na mesma direção outro texto : "Enquanto não percebermos que a ética empresarial é fruto e conseqüência das convicções éticas de todos aqueles que formam a empresa, enquanto nos postos de comando e nos processos de tomada de decisão não houver em pessoas que façam prevalecer a firme vontade de agir eticamente nos negócios, haverá sempre uma dicotomia, uma contradição, em termos, entre empresa e ética. E enquanto nas nossa famílias, nas nossas escolas -do primeiro grau à universidade- não se transmitir outro valor que não seja o "levar vantagem em tudo", continuaremos a sorrir ironicamente quando se falar em ética empresarial".
Queremos melhorias na empresa? Vale a pena cultivar virtudes e ajudar os outros a praticá-las. Não gostamos nada quando nos dizem que somos parciais. Queremos ser imparciais nas nossas relações com os outros. O fato é que estamos mais inclinados à "lei do Gerson", constatamos que em muitos casos nos falta o equilíbrio e medida nas nossas decisões. O primeiro passo é o da tomada de consciência da deficiência e propor-se ganhar a virtude da imparcialidade. À medida que nos esforçamos, por ser justos, dar a cada um o que lhe é devido, essa prática constante nos ajudará a ganhar a conaturalidade que precisamos e as ações fluirão no sentido da melhoria de qualidade no relacionamento.
Pode-se empregar algumas estratégias para tornar operacional o desenvolvimento das virtudes; a título de exemplo vamos citar Stephen Covey onde propõe a figura do Vencer/Vencer: "Vencer/Vencer é um estado de espírito que busca constantemente o benefício mútuo em todas as interações humanas. Vencer/Vencer significa entender que os acordos e soluções são mutuamente benéficos, mutuamente satisfatórios. Com uma solução do tipo Vencer/Vencer, todas as partes sentem-se bem com a decisão, e comprometidas com o plano de ação. Vencer/Vencer vê a vida como uma cooperativa, não como um local de competição. A maioria das pessoas acostuma-se a pensar em termos de dicotomias: forte ou fraco, duro ou mole, perder ou vencer. Mas este tipo de pensamento tem falhas estruturais. Ele baseia-se no poder ou na posição, e não nos princípios. Vencer/Vencer baseia-se no paradigma de que há bastante para todos, que o sucesso de uma pessoa não se conquista com o sacrifício ou exclusão da outra. Vencer/Vencer é a crença na Terceira Alternativa. Não se trata do meu jeito ou do seu jeito, e sim de um jeito melhor, superior" .

9. Interação entre as virtudes
Há uma interação entre as virtudes, ao praticar a imparcialidade, esta leva consigo outras ações de qualidade; solidariedade, lealdade, veracidade, disciplina, etc. Portanto ao esforçar-se em ganhar uma delas todas as outras vão desenvolvendo-se conjuntamente.

10. Conclusão
Ética nada mais é que jogar no campo da qualidade no "agir", não só no "fazer". Partir para a ética das virtudes redunda em benefício do todo. Pensar em atingir melhores objetivos de qualidade nos serviços prestados pela empresa ao cliente exige uma tomada de posição, dentro da empresa em termos de melhoria no "agir".

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  FRASES

As usinas nucleares são confiáveis, as pessoas é que não são.
- John Kemeny

A diferença entre as pessoas que têm iniciativa e as que não têm é a diferença entre o dia e a noite.
- Stephen Covey

Se meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito, eu paro de dizer verdades a respeito deles.
- Adlai Stevenson

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
- Clarice Lispector

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