Estratégia Competitiva para Produtividade da Empresa – Parte 2 / 3
Prof. Carlos Maurício Duque dos Santos
Mestre e Doutorando em Ergonomia pela Escola Politécnica da USP em Engenharia de Produção.
Professor de Ergonomia da UNIP-Universidade Paulista nos Cursos de Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho e Engenharia de Produção.
Diretor da ABRAPHISET e Consultor de Empresas na Implantação de Programas de Ergonomia para Prevenção das LER/DORT e melhorias da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT).
mauricioduque@uol.com.br
PARTE 2/3
3. BREVE HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO ERGONÔMICA DE POSTO DE TRABALHO
Historicamente o projeto do posto de trabalho surgiu antes da Ergonomia, ou seja, surgiu com o trabalho, e este, como sabemos, é tão antigo quanto a humanidade.
A Ergonomia como ciência teve suas origens em estudos e pesquisas na área da Fisiologia do Trabalho, mais especificamente na fadiga e no consumo energético provocado pelo trabalho. Estes estudos tiveram como objetivo diagnosticar os problemas que causavam a fadiga no trabalho e, consequentemente, procurar soluções que pudessem eliminar e / ou minimizar a fadiga no trabalho.
Na Inglaterra, durante a I Guerra Mundial (1914 à 1917), fisiologistas e psicólogos foram chamados para colaborar no setor industrial, como recurso para aumentar a produção de armamentos com a criação da Comissão de Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições, em 1915. Com o fim da guerra, esta comissão foi transformada no Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que, por sua vez, realizou diversas pesquisas sobre o problema da fadiga na indústria.
Em 1929, com a reformulação do Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que se passou a chamar Instituto de Pesquisa Sobre Saúde no Trabalho, o campo de atuação e abrangência das pesquisas em Ergonomia foi ampliado. Nele foram realizados pesquisas sobre posturas no trabalho e suas conseqüências, carga manual e esforço físico, seleção e treinamento de trabalhadores, bem como, foram analisados as conseqüências das condições ambientais ( iluminação, ventilação e etc.) na saúde e no desempenho do indivíduo no trabalho, delineando deste então a necessidade de agregação de conhecimentos interdisciplinares ao estudo do trabalho.
Na II Guerra Mundial ( 1939 à 1945 ), com a utilização de equipamentos e instrumentos bélicos, de concepção complexa e de alta tecnologia, exigia dos operadores habilidades acima de suas capacidades e em condições ambientais desfavoráveis e tensas no campo de batalha.
Em função do elevado número de problemas encontrados decorrentes da inadequação ergonômica nos projetos de designados equipamentos, instrumentos, painéis e consoles de operação, os esforços foram redobrados para adequar estes produtos as necessidades operacionais, a capacidade e limitações dos usuários (pilotos, controladores e operadores), objetivando a melhoria no desempenho, redução da fadiga e dos acidentes.
Nascia ai as primeiras aplicações práticas da ergonomia na concepção de projetos de design de produtos e postos de trabalho.
O projeto de design do posto de trabalho torna-se ergonômico na medida em que os conhecimentos científicos relativos ao homem são utilizados na concepção do projeto de design, com vistas a reduzir a fadiga física, facilitar a operação dos equipamentos e instrumentos, proporcionar segurança, eficiência e eficácia.
Nos dias atuais o que estamos percebendo é que a maioria dos problemas ergonômicos estão exatamente onde sempre estiveram, ou seja, no projeto das máquinas, dos equipamentos, das ferramentas, do mobiliário e do posto de trabalho e, evidentemente, agravados pelas inadequações relativas a organização do trabalho.
Desta forma, se não houver a adaptação ergonômica do projeto do posto de trabalho os problemas ergonômicos continuarão a existir. Estes problemas podem ser minimizados com ações paliativas (ginástica laborativa, pausas durante a jornada de trabalho, redução da jornada de trabalho, rotatividade de tarefas e etc.), mas, jamais eliminados em sua totalidade, pois com estas ações, não se combate a causa, e sim o efeito. Por este motivo, é que se deve aplicar os conhecimentos ergonômicos na concepção do projeto dos postos de trabalho, das máquinas, das ferramentas, do mobiliário e, até mesmo no planejamento da organização do trabalho.
4. ERGODESIGN: O PROJETO ERGONÔMICO DO POSTO DE TRABALHO
- Posto de Trabalho:é definido como a menor unidade produtiva em um sistema de produção. O posto de trabalho envolve o homem, seu local de trabalho, e toda ajuda material que o indivíduo necessita para realizar suas tarefas, abrangendo: máquinas, ferramentas, equipamentos, mobiliário, softwares, sistemas de proteção e segurança, EPIs e o próprio sistema de produção. O projeto do posto de trabalho tem basicamente dois enfoques historicamente conhecidos; o enfoque taylorista e o enfoque ergonômico tradicional e, com o advento da automação, informatização e dos novos sistemas de gestão dos negócios, estamos conceituando neste artigo o enfoque ergonômico global. A seguir apresentamos a definição e a abrangência dos enfoques ergonômicos dos postos de trabalho:
- Enfoque Taylorista:é baseado no estudo dos movimentos corporais para realizar uma tarefa e no tempo gasto em cada um desses movimentos. O melhor método de trabalho é escolhido pelo menor tempo consumido na realização das tarefas. O enfoque taylorista não leva em consideração as características físicas e psicológicas dos usuários / operadores, muito menos, as necessidades individuais dos mesmos.
- Enfoque Ergonômico Tradicional:é baseado no princípio da redução das exigências biomecânicas no intuito de minimizar a fadiga física, ou seja, leva em consideração os limites e capacidades do indivíduo do ponto de vista da biomecânica ocupacional e, as características antropométricas dos usuários / operadores. No enfoque ergonômico tradicional, o posto de trabalho é considerado um prolongamento do corpo humano, visto que este trata apenas dos fatores físicos do posto de trabalho. O enfoque ergonômico tradicional é aplicado na concepção e/ou adaptação de postos de trabalhos tradicionais.
- O Enfoque Ergonômico Global:segue os mesmos princípios do enfoque ergonômico tradicional, abrangendo ainda os aspectos psicológicos e cognitivos do indivíduo, bem como, os sistemas de produção (incluindo os hardwares e softwares).
No enfoque ergonômico global, o posto de trabalho é considerado um prolongamento do corpo e da mente humana, pois trata além dos fatores físicos do posto de trabalho, os aspectos cognitivos (na interface homem x máquina e processo de produção), bem como, as relações pessoais e motivacionais no ambiente de trabalho. O enfoque ergonômico global é aplicado na concepção e / ou adaptação de postos de trabalho e/ou ambientes de trabalho informatizados e automatizados em ambientes industriais e administrativos.