Revista EngWhere
ORÇAMENTOS, PLANEJAMENTOS E CUSTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
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20/12/2.001 - Ano 01 - Nº 03 - Edição de Natal
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O Senhor é meu Pastor: nada me faltará.
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ALTO VOLUME |
No final dos séculos, reunidos, entre hosanas e aleluias, ao som de uma música de Bach, os Justos estarão, finalmente, adentrando aos Reinos dos Céus. Os Ímpios, não agraciados, terão merecida relegação às profundezas, também ao som de uma música de Bach: unanimidade extra-universal. Portanto, prepare-se...
PARA OUVIR BACH
Quero demonstrar ao mundo, na arquitetura da minha música, a arquitetura de uma nova e bela comunidade social. O segredo de minha harmonia? Só eu o conheço. Cada instrumento em contraponto, e tantas partes contrapontísticas quantos instrumentos existirem. A autodisciplina iluminada das várias partes - cada qual se impondo voluntariamente a si mesma os limites de sua liberdade individual para o bem-estar da comunidade. Tal é a minha mensagem. Nem a autocracia de uma única e teimosa melodia, de um lado, nem a anarquia de ruídos desenfreados, de outro. Não, um delicado equilíbrio entre ambos - uma liberdade esclarecida. A ciência da minha arte. A arte da minha ciência. A harmonia das estrelas do céu, o anseio de fraternidade no coração do homem. Tal é o segredo da minha música.
Falaremos de Bach, sílaba que beatifica seus adoradores. Nossas pretensões serão fazê-lo conhecer um pouco mais sua música.A música de Bach poderá, não o negue, lhe parecer aborrecida e monótona. Alguns motivos para isto:
a) São pouquíssimos seus conhecimentos sobre o Mestre e suas obras; b) São raríssimas as oportunidades de se ouvir Bach apropriadamente. É necessário descobrir determinadas igrejas ou, então, freqüentar concertos de câmara muito especiais, talvez em outros terras; c) A música de Bach é menos imediata que a de muitos outros compositores. Não é "obviamente dramática" e irá despertar-lhe certo desapontamento por isto; d) Devido a esta coisa assustadora chamada contraponto, ou o adjetivo contrapontístico.
1. A TÉCNICA DEMONSTRATIVA Estamos habituados a ouvir música de natureza essencialmente dramática, escrita depois do tempo de Bach que, de uma maneira ou outra, esperamos encontrar em todas as músicas. Nossos hábitos condicionam nossos gostos. O que torna dramática a música? O contraste – e neste caso, no sentido de compor, de duas idéias ou emoções contrastantes, num único andamento. Ou o contraste entre temas: agitado / tranqüilo, masculino / feminino, etc. E há sempre a considerar o contraste das tonalidades. E o contraste provoca tensão, conflito, oposição. Bach, derradeira plataforma contrária a este conceito dualístico, adotou um conceito tradicional que diz: uma coisa de cada vez – tristeza ou alegria, dia ou noite – um conceito certamente tão válido como qualquer outro. Assim, para gostarmos de Bach, teremos que reorientar nossa atitude em relação a uma música que tem, do início ao fim, o mesmo fio condutor. E isto vale para toda sua obra, que segue sempre esta lógica, fazendo-se prolongar continuamente. Procurando qualquer transformação de ambiente ou disposição, um retardamento ou um abandono, próprios do sentimentalismo lírico – um contraste – você não irá encontrar. A menos em termos de dinâmica, modulação ou instrumentação. O contraste dramático, em função dos temas, não estará presente. A música é baseada em uma série de temas, relacionados entre si, e tratados, desenvolvidos e explorados até as últimas conseqüências. A técnica, chamada demonstrativa ou não-dramática, tem como finalidade especular ou explorar por completo um determinado assunto. E é bastante intelectualizada, não?
2. CONTRAPONTO Já sabemos que contraponto é melodia acompanhada por uma ou várias melodias adicionais que evoluem simultaneamente. É oportuno observar que duas melodias produzidas ao mesmo tempo deverão resultar duas vezes mais interessantes do que apenas uma. Nesta ordem de idéias, seis melodias simultâneas devam resultar seis vezes mais interessantes e seis vezes mais difíceis de escrever... e, seis vezes mais difíceis de assimilar. As músicas que estamos acostumados a ouvir têm predominância da harmonia muito maior, em detrimento do contraponto, ou seja, a melodia em evidência, suportada pelos acordes: "melodia e harmonia" ou "tema e acompanhamento". Numa época anterior as pessoas escutavam música de uma forma diferente: o ouvido estava preparado para ouvir linhas melódicas, simultâneas, em vez de acordes. O contraponto surgiu, pois, anteriormente à harmonia. Toda a música primitiva e, ainda hoje, na música folclórica, no Jazz, a linha melódica (melodias-que-se-sucedem-continuamente) é o elemento principal. Recapitulemos: CONTRAPONTO: disciplina musical que tem por objeto a superposição de trilhas melódicas;FUGA: composição musical em contraponto, sobre um tema único (sujeito). O estilo contrapontístico na fuga baseia-se principalmente na reprodução sucessiva dos mesmos desenhos rítmicos ou melódicos, de duas ou mais vozes, nos diversos graus da escala. Forma baseada numa imitação insistente, dando a impressão que uma frase está fugindo da outra, perseguindo-se ou procurando-se. Como forma bem estruturada, surge no Século XVII, com Gabrieli e Frescobaldi. PARTES: exposição, episódio, estreto, resposta, contra-sujeito, coda. FUGA DUPLA: uma fuga com dois temas que ocorrem simultaneamente. SUJEITO: tema ou motivo que é a base para a forma musical. 3. HARMONIA Melodia é uma idéia horizontal de música que desliza através do tempo de uma forma linear e contraponto uma série de linhas melódicas horizontais evoluindo ao mesmo tempo. Ouça uma de suas músicas. a) Procure identificar suas linhas melódicas. Serão muitas. Aliás, cada instrumento poderá estar seguindo uma delas. b) Reproduza novamente a mesma música procurando identificar as concordâncias entre notas de linhas melódicas diferentes. Você irá deparar com diversificados e riquíssimos "acordes" que serão formados por notas distintas das várias linhas melódicas. Se julgar necessário, dê algumas pausas abruptas, para fazer uma série de interrupções na música e poder mais facilmente ouvir estes acordes, imediatamente após cada interrupção. Este som vertical é a harmonia, os pilares que sustentam a melodia, então, de forma um tanto mais rebuscadas. (E também bastante dramática, no sentido que expusemos acima, não é verdade?). Comece, então, a dar-se conta que a harmonia e o contraponto são interdependentes e este aspecto é o mais importante porque representa o caminho que nos conduz ao estilo de Bach. O compositor consegue a fusão das linhas vertical e horizontal de uma maneira tão maravilhosa que não se poderá dizer, ao se escutar qualquer obra sua, tratar-se exclusivamente de contraponto, ou exclusivamente de melodia. E neste jogo de palavras cruzadas em que as "horizontais" e as "verticais" são interdependentes, em que tudo confere, todas as respostas resultam corretas. O tratamento dado ao "canon" é similar, e seus corais, sua música mais simples, foram compostos quase sempre para 4 vozes: soprano, contralto, tenor e baixo, com base na teoria de que os quatro tipos de vozes se encontravam em qualquer assembléia de fiéis da Igreja Luterana. E mesmo no ambiente deste labirinto contrapontístico Bach sai airoso da situação ao conjugar o contraponto com a harmonia, de tal maneira que jamais nos vemos forçados a seguir quatro melodias isoladas ao mesmo tempo como, por exemplo, se tivéssemos que escutar quatro conversas telefônicas simultâneas. A harmonia reúne as diferentes vozes e unifica-as numa só entidade. Começamos agora a ter uma idéia do que representa Bach. O coral, o prelúdio, o cânon e a fuga são seus 4 pontos cardeais. De posse destes conhecimentos, e com nossa nova capacidade para ouvir horizontalmente e verticalmente, já estamos aptos a assimilar qualquer de suas obras.
4. A RELIGIÃO Toda a obra de Bach foi concebida pelo seu espírito religioso, pois para Bach, toda a música era religião, ainda que sua finalidade não fosse secular. Os seis Concertos Brandemburgueses para orquestra foram teoricamente dedicados ao margrave de Brandemburgo, mas as notas eram dedicadas a Deus, não ao margrave. Cada suite para violoncelo ou cada sonata para violino, cada prelúdio e cada fuga do Cravo Bem-Temperado, tudo era dedicado a Deus. (Parcialmente extraído, condensado e livremente adaptado de O Mundo da Música, de Leonard Bernstein). |
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Construção Civil: Planejamentose
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A ARCA DE NOÉ ou O Objetivo, Esse Desprezado ou ainda Os Meios Justificam o Fim (A Anti-lei de Maquiavel) – Sem registros do Autor
Absalão era um homem que se podia conceituar como justo. Era um estudioso e quando repetia os sábios dizendo que os lados de um quadrado eram iguais, realmente tornava-se difícil entendê-lo. Dos seus 65 anos de idade, a maior parte havia dedicado à arte da guerra, onde conceitos técnicos e científicos eram aplicados. Particularmente, era apaixonado pela organização das forças de combate e o uso de armas avançadas, tais como lanças de grande alcance, setas orientadas e na última novidade bélica: o lançador de pedras. Era um verdadeiro General. Com o avanço da idade e o aumento correspondente da sabedoria, Absalão também se preocupava com assuntos humanos, os quais, porém, o perturbavam um pouco. O Criador já não era reverenciado, como no seu tempo, os filósofos eram ridicularizados, havia uma inversão completa na política, acreditava-se mais na energia e estultice dos jovens, do que na ponderada e segura orientação dos mais velhos. Um dia Absalão andava na ravina, imerso em seus pensamentos, quando, de repente -'Puff'- uma nuvem de fumaça apareceu, acompanhada de uma voz tronitoante: - ABSALÃO! Absalão prestou-se apavorado. Só podia ser o Criador, pensou. E era. Em pessoa! - ABSALÃO - voltou a voz - NÃO ESTOU CONTENTE COM OS HOMENS. ESTÃO POLITIZADOS; GUERREIAM ENTRE SI E SÓ DEFENDEM INTERESSES PESSOAIS. O TRINÔMIO ADÃO - EVA - COBRA, DEU NISSO. AÍ... FAREI CHOVER POR 40 DIAS E 40 NOITES, ATÉ COBRIR A TERRA DE ÁGUA. ISSO SERÁ CONHECIDO COMO O DILÚVIO'. VOU MATAR TODO O MUNDO. MAS QUERO UMA HUMANIDADE, NASCIDA DE UM HOMEM INTELIGENTE, PRÁTICO E COM OBJETIVOS. VÁ E CONSTRUA UM BARCO PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA E COLOQUE DENTRO UM CASAL DE CADA SER VIVO. VOCÊ TERÁ 4 MESES PARA ESTE EMPREENDIMENTO. MEU CONTATO COM VOCÊ DORAVANTE O ARCANJO GABRIEL, QUE COSTUMAM CHAMAR DE 'MINISTRO DE DEUS'. 'Puff'! ... e a nuvem se foi...... "Absalão levantou-se lívido. O Criador elegera-o gerador da nova Humanidade! Todas as suas idéias seriam propagadas para o futuro! Mas, Absalão nada conhecia de barcos, nem de navegação, porém não discutiria para não perder a grande oportunidade dada pelo Criador. Absalão era um sexagenário e estava difícil ganhar a vida com o 'status' de que se achava merecedor. Porém ... 4 meses...era muito pouco tempo. Era preciso resolver um problema técnico - construir um barco enorme. Que objetivo! Absalão provaria que era capaz de salvar a humanidade com sapiência dos mais velhos, usando a energia dos mais jovens! Absalão rebuscou a memória. Conhecia um Engenheiro Naval chamado Neul. Não -Noé! Sim, era este o nome. Noé poderia construir-lhe o barco. Tão logo pensou, tão logo já conversava com Noé: - Meu Caro, disse Absalão, quero encomendar um barco... e dos grandes! - Sim, Senhor, mas qual o tipo, para qual a carga, para navegação?... - Sim, sim, Noé, isto são detalhes. É um barco para grande carga e águas pesadas. Quero fazer uma longa viagem com a família e levarei tudo. - Está bem, senhor. Aqui mesmo temos floresta com madeira de densidade 0.8 g/c³, com quantidade suficiente. Se a carga é grande, faremos o centro de gravidade baixo e o centro de empuxo alto, de modo a obter grande estabilidade... Acho que com 10 bons carpinteiros, que consigo arranjar, e mais 1 mês de trabalho duro, estaremos com o barco pronto... - Perdão, caro Noé, não quero interrompê-lo, mas como pode ter certeza desta cadencidade da madeira? E se os homens são realmente competentes? E se trabalharão com eficiência? - Senhor, a unidade a que me refiro chama-se densidade e os homens são carpinteiros, já meus velhos conhecidos... - Não, não, Noé - disse Absalão com um sorriso de condescendência este EMPREENDIMENTO é grande e a coordenação é minha. Serei como que um Presidente e você será o técnico. Combinado? - Combinado, Senhor Presidente, e o barco é seu e quem manda é o Senhor, retrucou Noé, dando de ombros. Levantou-se para cumprimentar Absalão e retirou-se. Absalão pensou: puxa, não havia pensado nisso! São precisos carpinteiros para cortar as árvores e construir o barco. É preciso selecionar bem estes homens pois o EMPREENDIMENTO não pode fracassar. Ah! Já me lembro. Meu auxiliar na Cruzada Santa de Três-Pedras fez ótima seleção de lanceiros. Roboão é o seu nome. Hoje está selecionando beterrabas para as indústrias egípcias, mas virá trabalhar comigo, por um salário um pouco maior. - Mas, Chefe, se o técnico disse 10 carpinteiros, precisamos no mínimo de 15. O Senhor sabe, faltas, doenças, férias, turn-over'... E para selecionar bem 15 homens temos que explorar um universo de pelo menos 150 a 200 homens. Levarei algum tempo para isto e precisarei de auxiliares. - Confio em você Roboão. Já fez um bom trabalho para mim e tem grande experiência com Pessoal. Realmente, achei Noé muito simplista. Convide quem você achar melhor para realizar o recrutamento e a seleção dos homens para a tarefa. Mantenha-me informado. - Certo, Chefe, obrigado pela confiança. Sairei em campo imediatamente. Esta noite Absalão dormiu satisfeito. Após a missão do Senhor, em menos de 24 horas já tinha o técnico e o especialista em Pessoal. Dormiu embalado ainda pela algazarra de sua família (20 membros) na festa de inauguração do lançamento do EMPREENDIMENTO. O segundo dia amanheceu tranqüilo e claro. O Presidente foi acordado por Roboão, com boas notícias. - Chefe, já tenho 5 homens anunciando no povoado. É a fase do recrutamento. De acordo com o mercado, estamos oferecendo 5 dinheiros. - Mas, Roboão, minha mulher ganha 9 dinheiros cosendo para fora..., não será pouco? - Deixe comigo, Chefe, no recrutamento da última batalha pagamos 8 dinheiros para valentes combatentes. Estes são apenas carpinteiros, que não podem ser comparados com a sua senhora. Temos assim 5 recrutadores e 10 examinadores para a fase de seleção, menos do que 10% dos candidatos esperados! - E quanto ganharão? - O salário desta equipe varia de 8 a 12 dinheiros, por serem especialistas. Chefe, um probleminha a mais: não quero responsabilidades com o numerário e não sou bom em contas. O trabalho com o pessoal já é bastante. Não acha melhor termos um homem para a gerência financeira do EMPREENDIMENTO? - Bem lembrado Roboão! Mas não conheço nenhum e deve ser um homem de confiança. - Chefe, se me permite, quero lembrar-lhe o Judas, aquele nosso velho Capitão, que se ocupava do dinheiro da força de combate? - Não, não, Roboão. Este negócio de dinheiro com o pessoal das armas não dá certo. Pensaremos em outro: deve ser um especialista na coisa... Você me compreende... - Então, Chefe, poderemos fazer uma seleção entre os candidatos. Sairei em campo. O EMPREENDIMENTO crescia de vento em popa. As equipes de recrutamento e seleção estavam em plena operação. As finanças já tinham um responsável. Mas, onde colocar este pessoal? Absalão partiu, com seu habitual dinamismo e logo adquiriu uma grande cabana de madeira, já com divisórias e tapetes e contratou imediatamente o pessoal de Zeladoria e Segurança, convidando ‘alguns antigos conhecidos das forças de combate'. Iniciou-se assim a operação em grande escala. - Senhor Presidente, falou timidamente a graciosa recepcionista, está aqui o Dr. Noé com alguns desenhos e... - Minha filha, já lhe disse para não interromper. Diga ao Dr. Noé que falo com ele após o almoço. – Absalão continuou a entrevista com o futuro Gerente de Material, Jacob, também seu velho conhecido de carreira, dos tempos da campanha do Sinai. - Pois é, amigo Jacob, preciso cercar-me de gente de confiança, para o sucesso do EMPREENDIMENTO. Material é uma área delicada, não tolerarei desvios de estoque e má especificação dos itens. - Certo, Chefe, sabe que pode confiar em mim. Nunca sumiu uma flecha ou lança no meu tempo. Mas o armazenamento de madeira necessita de almoxarifado adequado e de bom almoxarife. Para o controle necessitarei de arquivos Kardex, prateleiras e pessoal de apoio. - Justo Jacob. Encomende as prateleiras na carpintaria do povoado e fale com o Roboão para o recrutamento do pessoal necessário. Neste momento entrou Job, o Secretário Executivo do Presidente. Jacob afastou-se discretamente. - Senhor Presidente, acaba de chegar um relatório da Segurança, indicando certos nomes que não devem ser contratados. Há suspeitas de que alguns não sejam bem confiáveis. - Ótimo trabalho de Gau, jamais lhe faltou a intuição. Precisamos estar alertas. - Ah! Outra coisa Senhor Presidente, o Dr. Noé telefonou novamente. Parece aflito para a aprovação de alguns desenhos.- Ora, este Noé! Sempre querendo me confundir com cidades de madeira, centros de fluxo, etc. Ele acha que não posso, sozinho, me responsabilizar pela aprovação desses desenhos. Diga-lhe que nomearei um 'grupo de trabalho', o GT-BAR, Grupo de Trabalho do Barco, para dar-me um parecer. O rapaz é bom "de projetos, mas nada entende de custos ou administração por objetivos. Mas, teremos tudo nos eixos tão logo chegue o meu chefe de Administração. Vai colocar ordem e método nesta turma. Quero ver produção! Quinze dias se passaram e o cronograma proposto já estava na mesa do Presidente. Uma Diretoria das Coisas (DC), uma dos Investimentos (DI) e uma de Barco (DB). A DB já havia montado um laboratório especializado para a medida de densidade da madeira, análise de fungos e cupins e já estavam instalados os equipamentos para medida de elasticidade e flexibilidade. A Administração, em apenas 15 dias, já havia elaborado as provas para o selecionamento do pessoal de apoio, seleção, etc. Roboão, como cumprimento ao Chefe, havia mandado comprar uma charrete último tipo, de 16 rodas e boléia separada, já acompanhada do charreteiro. Naturalmente houve pequeno atrito com Jacob (Chefe do Material), mas como eram antigos companheiros de armas, o incidente foi esquecido e contornada a auditoria. Naquela noite Absalão estava cansado, mas não pode esquivar-se de receber Noé em sua residência. - Senhor Presidente, desculpe-me interromper o seu descanso, mas o projeto já está pronto e as pessoas do GT-BAR ainda não foram nomeadas. O material já está especificado, porém o laboratório ainda não emitiu o laudo de aprovação da madeira e não se conseguiu os carpinteiros para o corte... Se o Senhor Presidente pudesse autorizar-me a trazer os carpinteiros conhecidos, do povoado... - Não se preocupe, Noé. Falarei amanhã com o DB e apresentarei a contratação do pessoal. Você sabe, apesar de ser Presidente, não posso mudar as normas da organização, autorizando diretamente seus carpinteiros. Se o fizesse não precisaria deles. Da chefia vem o exemplo do cumprimento das normas. Não se preocupe que o EMPREENDIMENTO está nas mãos de profissionais os melhores. Boa noite Noé... Noé afastou-se sem entender muito bem. Havia sido convidado para construir um barco. Agora estava às voltas com normas, instruções, exames de seleção... Balançou a cabeça - as coisas devem ser complicadas mesmo - e o Presidente é um homem capaz, senão, não seria Presidente. Partiu otimista para sua cabana. Se o Presidente disse, é porque vai indo tudo muito bem. Vigésimo quinto dia. Manhã linda. Job anuncia a chegada de Roboão. - Entre logo, meu velho, sente-se. Aceita um leite de cabra? - Sim, Chefe, obrigado. Por falar nisso, seguindo a lei, mandei distribuir leite de cabra pela manhã e pela tarde, para todos. Já está até codificado o material, para o controle pelo computador. Mas para isto foi necessário adquirir 200 cabras, alugar um pasto e contratar 5 pastores. Jóia Chefe! Veja só: dá 40 cabras por pastor e os pastores só ganham 10 dinheiros. - Você é um bicho na Administração de pessoal Roboão. Falarei ao seu diretor para propor sua promoção na próxima vez. Como vai a sua avaliação pessoal? - Realmente não sei, Chefe, é confidencial... - Darei um jeito para que seja boa, afinal já temos 500 pessoas no efetivo e todas passaram por você. E você conseguiu ainda comprimir o quadro, que era de 800 pessoas. Quanto economizaremos em média? - Nessas 300 pessoas, cerca de 4.000 dinheiros, Chefe! -Respondeu Roboão com um sorriso de modesta satisfação. Talvez fosse aumentado para 30 dinheiros, pensou. - Roboão, não quero incomodá-lo e nem por sombra desfazer do belíssimo trabalho de sua equipe, mas Noé disse que ainda não foram contratados os carpinteiros para o corte... - Ora, Chefe. Noé é um sonhador. Só pensa nos seus benefícios. Já lhe expliquei a complexidade da contratação. Por exemplo: já aumentamos a oferta para 6 dinheiros, porém todos os carpinteiros candidatos foram reprovados no primeiro psicotécnico. Não adianta contratar pessoal sem aptidão psico-profissional para o corte de madeira. Se não passam nem neste exame, imagina nos outros. Além disso o psicotécnico deve ser o primeiro exame, para eliminar logo os agressivos. O Senhor sabe, com toda essa madeira para cortar, pode haver acidentes muito sérios... - Realmente você tem razão, Roboão. Noé desconhece o que é uma boa organização. Toque como você achar melhor. Se o contratei é porque tenho total confiança no seu trabalho. Quadragésimo dia. Finalmente a primeira reunião de Diretoria. Era o momento solene das grandes decisões de cúpula do EMPREENDIMENTO. Todos com seu melhor terno, sentados à mesa de reunião com suas pastas tipo 007. O Presidente, satisfeito, relatava que o EMPREENDIMENTO era o orgulho do povoado. Havia muito trabalho e emprego para todos. Aproveitando o clima de satisfação, o DC informou que havia feito um convênio com a Escola de Carpinteiros, pois a mão-de-obra necessária, estava aquém do treinamento. Além disso havia criado o Departamento de Recursos Humanos com a missão de retreinar os carpinteiros para a técnica naval e também treinar datilógrafos, secretárias, auxiliares para administração. Havia também um Departamento de Segurança e Medicina do Trabalho, por força da lei. O ambulatório atendia cerca de 20 pessoas por dia. O DB, aproveitando uma brecha do DC, ponderou timidamente que falta papel para desenho e que a eficiência dos carpinteiros era baixa: havia só um e que cortou 3 árvores, sendo 2 bichadas, de acordo com o último relatório do Controle de Qualidade. Noé, o técnico, estava tentando suprir a falta, desempenhando em folhas de bananeira e cortando árvores à noite, após o expediente. Quando o DB propôs aumentar o salário de Noé para 15 dinheiros, o DC explodiu, seguido de perto pelo DI. - Estes tecnocratas paisanos não funcionam e ainda querem aumento: Senhor Presidente, sou de opinião que devemos aumentar a equipe de recrutamento e apertar as provas de seleção. Nossa equipe técnica deixa muito a desejar! - Perdão, retrucou o DB. O laboratório funciona. Veja que detectou as árvores bichadas. Acontece que não temos o apoio necessário. O Senhor está desviando recursos para a área de Operação do barco, recrutando timoneiros, taifeiros, etc. - Mas é lógico, interveio o Presidente, temos que agir com antecedência no treinamento. Treinar é investir no futuro! No octogésimo dia Absalão passeava na ravina. Estava orgulhoso. Era Presidente de um EMPREENDIMENTO que já estava com 1.200 pessoas. As preocupações de Noé eram infundadas. Não passava de um tecnocrata pessimista. Felizmente já havia o Diretor Técnico para despachar com Noé. Menos um aborrecimento. Subitamente: Puff - uma nuvem de fumaça. O Ministro do Senhor! Murmurou Absalão prostrando-se. ABSALÃO, PONHA GENTE DE MAIS PESO NO TOPO, CASO CONTRÁRIO O EMPREENDIMENTO AFUNDARÁ. Puff. Absalão correu à cabana de Noé. - Noé, Noé, ponha um convés no alto do mastro. Vou colocar as pessoas mais pesadas em cima. - Mas Presidente, isto é impossível... Sempre o convés é embaixo e o mastro aponta para cima. Se aumentarmos a massa no topo, o barco vai emborcar. - Não discuta alimentação agora comigo, Noé! - O MINISTRO mandou colocar homens pesados no topo e é isto que vou fazer... e cumpra as minhas ordens! Noé não retrucou. O Presidente estava nervoso. Talvez Job pudesse fazê-lo ver mais claro... Noé correu à Secretaria Geral, mas lá encontrou o comandante de operação do barco que já esperava a 2 horas. Com ele estavam o subcomandante nível 3, o imediato, o pré-imediato, dois assistentes e três assessores. Noé, disse o Comandante, o seu projeto não anda. Como vou treinar os meus homens sem barco? Vou pedir ao Presidente para adquirir um simulador de barco, caso contrário não me responsabilizo. O DI diz que minha razão de operação está horrível, mas alocou custo só na minha área! Já reparou quantas pessoas de apoio tem o Departamento de Apoio? Noé balançou a cabeça e retirou-se vagarosamente. Realmente o que ele conseguira? Uma meia dúzia de desenhos, algumas em folha de bananeira. E isto em 80 dias. Ele havia prometido ao Presidente que faria o barco em 120 dias. Estava acabrunhado e sentia-se um incompetente. Mas, o que estaria errado? O Presidente entrou furioso, desabafando em Job. - Veja só! Faltam apenas 40 dias e a Divisão de Importação diz que há crise de transporte e a madeira só chegará no prazo médio de 10 dias! O pessoal do PO, mais o de O&M , junto com o CHD já fizeram tudo para diminuir o caminho crítico de um tal de PERTO, mas estou vendo tudo longe! - Quero uma reunião de emergência com os diretores. Vou despedir o Setor de Carpintaria e contratar outro. - Se não fosse o Roboão com a equipe de recrutamento, não sei o que seria. - Mas Presidente, faltam 40 dias para que? - Para o Dilúvio, meu filho, para o Dilúvio! Envia o seguinte telex:
De: Absalão Presidente (AP) Para: Senhor Criador(SC) SOLICITO PRORROGAÇÃO PRAZO RESTANTE 40 DIAS. DIFICULDADES INTRANSPONÍVEIS CRISE INTERNACIONAL DE MADEIRA. PROSTRAÇÕES. ABSALÃO. O ruído monótono da impressora deixava Absalão ansioso, mas a resposta veio finalmente: CONCEDIDO PRAZO MAIS CINCO DIAS IMPRORROGÁVEIS. ELEVAÇÃO DAS ÁGUAS EM ANDAMENTO. Absalão desesperou-se e partiu para a reunião. Job pelo telefone interno iniciou a telefofoca do Dilúvio. Octogésimo segundo dia. Gau adentra o gabinete do Presidente. - Chefe, tenho aqui um relatório de que há um desvio de cipós de amarração no almoxarifado. A listagem do Computador não bate com a Auditoria... - Que inferno, Gau! Coloque sua equipe em campo. Jacob está fora de suspeita por ser meu antigo companheiro de batalha. Verifique o pessoal da carpintaria. - Mande um memorando ao Roboão para aumentar a equipe de Segurança. - Job, ponha o Roboão na linha... - Roboão, aqui é o Presidente. Já recrutou os carpinteiros? - Infelizmente não passam nos testes psicotécnicos, meu Chefe. Já até afrouxamos essas provas mas o exame de reconhecimento de tipos genéticos de cupim reprova todo mundo. É por isso que a madeira de estoque está bichada, conforme relatório do Departamento de Material. - Presidente! Interrompeu Job. É urgente: há dois pastores na ante-sala dizendo que há crise de leite nas cabras e não está havendo distribuição aos funcionários por uma semana. O suprimento parece que não providenciou capim no secado pasto... Qual a sua decisão?
Centésimo dia. Reunião da Diretoria. - Senhor Presidente, falou o DI, dentro de uma semana vencem nossos empréstimos internacionais com os povoados vizinhos e o caixa não é suficiente. Nosso EMPREENDIMENTO economicamente vai muito bem, mas financeiramente estamos na beira de uma crise de insolvência de caixa. Sugiro uma redução de pessoal! - Toda vez que se fala em reduções, todos olham para mim. Explodiu o Comandante de Operações. Sem meus homens não há operação do barco, que nem sair do porto pode. E meu simulador ainda não foi aprovado! - Senhor Presidente, timidamente tentou o DB, acho que o Comandante tem razão, mas não prometeram ao MINISTRO que o barco estaria pronto em breve? Mas... sem material. - Como posso fabricar madeira?, gritou o DC, meu Laboratório não acha madeira local e há crise de transporte! Os carpinteiros são incompetentes... E este tal de Noé? Que fez ele até agora? E ganha 10 dinheiros... - Senhores! falou gravemente o Presidente. Todos olharam esperançosos. - A situação do EMPREENDIMENTO é razoável, mas temos que tomar uma atitude mais séria quanto ao projeto do barco... - Presidente, não quero interrompê-lo, mas em nossos arquivos não constam os exames de admissão de Noé e nem sabemos se ele é mesmo Engenheiro Naval... - Sim, a culpa é minha, falou o Presidente, mas quando contratei Noé, ainda não existiam as Normas do EMPREENDIMENTO. - Tudo era muito improvisado naqueles dias, Senhor Presidente, e a culpa pode ser somente aceita por V. Excia., acrescentou o DI. - Esse Noé é um oportunista sem escrúpulos, querendo se fazer passar por Engenheiro Naval sem ter freqüentado nenhum curso regular... - Ele é um bom homem, concedeu o Presidente. - Mas está desviado da função, Senhor Presidente, redargüiu o Comandante de Operações. - Não podemos permitir que o mau exemplo prolifere! Que vou dizer ao meu pessoal? Como vou manter o moral da equipe, permitindo que eles pilotem um barco construído por um arrivista qualquer, que nem Engenheiro é? Acrescentou o Comandante. - Não há outra solução Senhor Presidente... Todos se entreolharam. Alguns começaram a rabiscar flechas nos blocos de anotações. Absalão calado. Por fim decidiu. - Noé está despedido! E virando-se para Roboão: - Providencie a anotação em sua Carteira de Trabalho... - Mas Chefe, nem carteira ele tem... - É isso! Um desorganizado total! Cada vez mais me convenço do erro de tê-lo convidado! Notifique-o então que ele está sendo despedido. No interesse do EMPREENDIMENTO... Noé realmente ficou furioso com a notificação. Mas exigiu a fração do décimo-terceiro salário que lhe cabia. Estava disposto a sair daquela terra e o caminho mais fácil era pelo rio. Partiu para a floresta e reuniu 5 companheiros. - Amigos, vamos cortar essas árvores bichadas mesmo, construir um barco e sair daqui! - Mas Noé, nem somos carpinteiros e nem sabemos fazer barcos... - Não importa. Ensinarei a cortar a madeira e já tenho os desenhos. Formaremos uma equipe motivada com objetivo de construir um barco para uma vida melhor em outras terras. Levaremos uns bichos à bordo para comer na viagem. Só falta meter mãos à obra. Em poucos dias , o casco do barco já tomava forma. Centésimo-vigésimo-quinto dia. O Presidente acordou preocupado. A madeira tinha chegado mas só havia 3 carpinteiros no Setor de Carpintaria. Sua charrete tomou o caminho mais rápido para o escritório, para evitar o mau tempo. Nuvens pesadas cobriam os céus. Absalão foi direto ao telex, mas Joe chegava às 10 horas. Absalão correu ao CPD. - O que há aqui, não começou o expediente? Quem é Você? - Sou uma perfuradora, Senhor. Há dias não há ninguém. Dizem que pelo Plano de Classificação de Cargos e Salários na Construção Civil e pela Política de Promoções, não fica ninguém... Absalão voltou ao escritório. No caminho encontrou com Gau, que lhe disse preocupado haver um zum-zum acerca de um tal de Plúvio que poderia ser um terrorista, mas que sua equipe... Absalão ficou branco e correu ao telex. - Job: rápido! De: Absalão Presidente (AP) Para: Senhor Criador (SC) DIFICULDADES INSUPERÁVEIS COM O PROJETISTA ATRASARAM EMPREENDIMENTO. SOLICITO PRORROGAÇÃO PRAZO. A resposta foi imediata: DO: Senhor Para: Absalão PRORROGAÇÃO NEGADA
E começou a chover... Absalão correu para fora, seguido de Jacob. - Chefe, há um barco descendo o rio. Veja na proa... est escrito...está ...
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HÁ 100 ANOS... |
SONETO DE NATAL Machado de Assis (1839-1908) Um homem, era aquela noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno, Ao relembrar os dias de pequeno, E a viva dança, e a lépida cantiga, Quis transportar ao verso doce e ameno As sensações da sua idade antiga, Naquela mesma velha noite amiga, Noite cristã, berço do Nazareno. Escolheu o soneto . . . A folha branca Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca, A pena não acode ao gesto seu. E, em vão lutando contra o metro adverso, Só lhe saiu este pequeno verso: "Mudaria o Natal ou mudei eu?"
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